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sábado, 2 de março de 2013

MPB - Nos Tempos Da Repressão

Quem nunca ouviu falar da verdadeira e legítima música brasileira ou simplesmente MPB (Música Popular Brasileira)? Para mim é o estilo musical que mais representou o Brasil e leva uma história imensa e simplesmente fantástica que criarão verdadeiros ídolos brasileiros como os consagrados Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Geraldo Vandré, Elis Regina, Tom Jobim, Vinícius de Moraes entre muitos outros. Não que eu esteja descriminando outros estilos musicais, porém eles foram além de cantores, heróis do Brasil que lutaram para que hoje o Brasil pudesse ter o poder de ter o voto aberto e fosse um país com o governo democrático.



Para iniciar a história, primeiro vamos voltar alguns anos quando ouve um golpe militar das Forças Armadas Do Brasil com apoio dos estados unidos conhecido como o Golpe de 1964, fazendo com que as Forças Armadas instalassem o Regime Ditatorial Militar no Brasil sendo que todos os outros presidentes fossem militares, sendo que para escolher o presidente os votos eram numa própria assembleia militar, ou seja, a população não tinha o direito de opinar em nada. Assim sendo várias revoltas foram geradas criando vários movimentos, sendo o mais conhecido o “Diretas Já” que consistia na restauração da democracia no país. Além do movimento “Tropicália” que foi um movimento artístico, dado tanto na área musical, como em teatros e artes plásticas.



Na época, o governo controlava todos os veículos de comunicação, sendo que quem não seguisse as normas seriam automaticamente censurados. Dessa forma os cantores usavam de letras com duplo sentido para que as músicas chegassem aos ouvidos do povo, exemplos dessas músicas têm “Alegria, alegria”, “Cálice”, “Pra não dizer que não falei das flores”. Mesmo assim vários cantores foram exilados na época como Caetano Veloso, Chico Buarque, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, entre muitos outros.

Confiram agora a interpretação da letra “Alegria, alegria” de Caetano Veloso, com créditos à Alexandre Carvalho:

Caminhando contra o vendo
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou…

O autor, encontrando-se em um regime politico em que já dava as caras de ser ditadura, já manifestava a ideia de discordância com a situação. “caminhando contra o vento” oferece a ideia de resistência, o que já introduz a posição do autor a respeito da politica. “sem lenço e sem documento”. Eram acessórios obrigatórios para se andar nas ruas, então andar sem o lenço reforçava a ideia de resistência e rebeldia, e o documento, seria para dificultar a sua identificação ao ser abordado pela policia. Uma estratégia dos rebeldes do sistema politico.

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou…

Ele se refere nessa estrofe às pessoas que se manifestavam contra o regime e eram presas. o sol se repartia entre as grades da janela da prisão pra onde iam os que praticavam o crime de não concordar com o regime politico. Espaçonaves na verdade são os tanques de guerra que eventualmente circulavam as ruas como forma de opressão da ditadura.

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras.
Bomba e Brigitte Bardot…

Agora, neste paragrafo, faz referencia aos Estados Unidos e sua cultura. Os EUA foram um dos países que mais incentivaram a ditadura militar no Brasil, cujos motivos não cabem à essa analise. Caras de presidentes: DOLARES. Grandes beijos de amor: marca registrada de filmes hollywoodianos que invadiam o brasil. Dentes, pernas, bandeiras: imagem nacionalista que os EUA pregavam, com propagandas com pessoas sorrindo, mulheres limpando casas enquanto maridos chegavam do trabalho. Era o típico sonho americano (american dream). Bomba e Brigitte Bardot: referencia às ogivas nucleares dos EUA, e ao cinema, de novo.

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou…

Referencia à censura. O governo controlava todos os meios de comunicação e tudo que era divulgado ao povo. Sendo assim, o autor faz pouco do veiculo de comunicação, uma vez que ele é controlado pelo governo e mostra somente coisas positivas sobre o mesmo, não servindo para qualquer pessoa que quisesse formar uma opinião imparcial sobre o que acontecia a sua volta.

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não…

Agora o autor procura incentivar o ouvinte a resistir à ditadura em nome do que importa pra ele: as lembranças, de quando o Brasil era diferente, as amizades, as alegrias que um futuro diferente traria, e as pessoas amadas. A ideia é se por contra o governo para defender essas causas, como incentivo.

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou…

Ainda procurando incentivar a população a se voltar contra a ditadura, o autor tenta mostrar que o cidadão não precisa abdicar de sua vida (ela pensa em casamento… eu vou), e que o fato de a educação ser precária no país não deveria ser motivo para a população achar que não era capaz de realizar uma mudança no sistema.

Eu tomo uma Coca-Cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou…

Iniciando a finalização da musica, no primeiro verso dessa estrofe o autor mostra para a população que não é necessário rejeitar a cultura importada dos EUA. No segundo verso, ele reforça a ideia de que o cidadão não precisa realizar grandes sacrifícios pessoais para se levantar contra o governo (embora o governo pudesse realizar verdadeiros estragos na vida dos cidadãos, a intenção do autor na musica é, também, mostrar que o cidadão pode fazer pequenos atos, de maneira a não se prejudicar). O terceiro verso indica a tristeza que grande parte da população já sentia em relação à situação em que estavam submetidos, e procura incentiva-los (novamente) a se animarem e procurar mudar o quadro nacional.

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone.
No coração do Brasil…

Como mensagem final, o autor procura, neste paragrafo, mostrar como o cidadão deve se levantar contra o estado: incentivado (primeiro paragrafo) ignorando a ausência de educação, sem violência, sem sacrifícios a ponto de poder ser preso e passar fome, e comunicando-se sobre a rebelião somente verbalmente, uma vez que telefones eram grampeados pelo governo.

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou…

O autor, Caetano Veloso, mostra que ele já havia cogitado a ideia cantar na televisão para melhor transmitir a mensagem. Porém mostra que ele tinha a certeza de que se fizesse isso, seria preso. “o sol é tão bonito” mostra que ele ama a liberdade, e não quer ver o “sol repartido” entre as barras da prisão.

Sem lenço, sem documento.
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor.
Eu vou…

Os dois primeiros versos exemplificam o modo de ir para as ruas, protestar. Para que, se o rebelde for capturado pela policia militar, ele tenha o mínimo de chances de ser identificado. O terceiro verso demonstra um sentimento típico de quem quer mudar sua situação para poder ser feliz. “quero seguir vivendo, amor” é como se o autor se explicasse para alguém sobre o porquê de estar envolvido em uma rebelião, e o motivo é de não aceitar aquela situação em sua vida. Para ele, aquilo não é vida.

Por que não, por que não…
Por que não, por que não…
Por que não, por que não…
Por que não, por que não…

O “porque não” não deve ser entendido como uma pergunta, e sim como uma resposta. Demonstrando que o autor, simplesmente não aceita a situação do Brasil: uma ditadura militar autoritária, violenta e repressiva.

EM RESUMO:

O autor encontra-se em um regime ditatorial no Brasil, e com esta musica, procura conscientizar e incentivar a população a se rebelar e protestar contra o governo da época. Assim como muitas outras musicas de grandes artistas desse contexto.

Nem sei se deveria dizer isso, pois não quero levar para o lado pessoal, mas na época houve muita influência da mídia, sendo que enquanto a Rede Record exibia o Festival de Música Popular Brasileira, a Rede Globo tentava mudar o pensamento das pessoas com canções sobre o amor com a Jovem Guarda, não que não seja bom que também é um ótimo estilo de música, mas em plena ditadura por que não exibir a verdade? Enfim estamos falando de mídia do passado, atualmente as emissoras só querem ibope e nada mais.
Lembrando que a ditadura além de exílios praticou muita tortura com civis, sendo que muitos parentes de vítimas não sabem a respeito de seus familiares até os dias atuais que provavelmente morreram, a ditadura foi até 1985 quando ouve uma eleição indireta em um colégio eleitoral onde houve a vitória Tancredo Neves sobre o candidato oposicionista Paulo Maluf, Tancredo Neves um dia antes de tomar posse do cargo presidencialista falece fazendo que seu vice José Sarney assumisse o cargo. Bom por hoje foi isso, não se esqueça de deixar seu comentário.